"Em tardes como esta
pensar em suicídio já é
suicidar-se um pouco.
*
Quem nunca pensou em se matar
provavelmente
nunca pensou.
*
Poder dizer algum dia:
Fui o melhor amigo
de um suicida.
*
O mais perfeito suicida:
aquele que não deixa cartas
de despedida.
*
Suicidar-se –
como quem se demite
de uma tarefa desagradável.
*
Afundar-se.
Deixar-se assassinar
por si mesmo.
*
Para isso
não existe
uma época ideal. (Agora é sempre a época ideal).
*
Em tardes como esta
pensar em suicídio
retarda o ato.
*
Só para os que lá
chegaram.
(Para os que se lançaram ao vôo.)
*
Numa outra tarde que não esta
pensar em suicídio
suscitaria o ato."
A saída poética da realidade indisposta... "quem nunca pensou em se matar provavelmente nunca pensou"... a morte espreita cada segundo, estreita cada minuto, finda cada hora trazendo-o mais para perto de si... e não são poucos os momentos em que a bendita morte nos é trazida e esbofeteada na cara, seja numa desilusão, seja no confronto com a morte alheia, seja no confronto com a vida alheia! Somos levados ao pensamento final, mesmo sem que tenhamos consciência, e porque? Somente para aumentar os agouros que a vida já impõe, maldita realidade que não dispomos controle!
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