quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sim, abandono...

E o que seria abandonar?

Seria deixar? Se assim for, eu não deixo nada, tudo vai comigo, todos continuam na mesma, só quem não fica sou eu.

Seria desamparar? Em que universo alguém ficaria desamparado com minha ida... Simplesmente vou daqui prali, tal qual caixeiro viajante, desamparo maior é a minha vida, não a de ninguém mais...

Seria afastar-se de algo? Obviamente me afasto, mas no mundo de hoje, estar afastada não significa estar ausente, mesmo que no virtual, mesmo que por meios indiretos, entrego-me a possibilidade do esquecimento e daí a abandonada sou eu...

Seria desistir de algo? Não desisto de nada, simplesmente recondiciono a maneira de levar as coisas, e o local de onde zelarei por elas.

Seria não se interessar por algo? Que interesses abandono... Não tenho nada que me faça importância em permanecer, nada que me prenda fielmente o interesse...

Seria desprezar? Algum dia prezei por algo... Não me recordo de dar importância, nem de prometer nada a ninguém, nem mesmo quando quis, jamais fui adiante... Não posso, portanto, desprezar o que jamais tive coragem de ter em primeiro lugar...

Seria dar-me ao desprezo? Nunca tive suficiente autoestima para vangloriar-me genuinamente, porque haveria então de desmerecer o que jamais foi...

Seria entregar-me? Dar-me por vencido? Mas nada me enfrenta, ninguém me enfrenta, vivo na mesma comiseração com que parto, entregar-me a que... Já a muito tempo entreguei-me ao desgosto de mim mesmo...

Seria deixar-me vencer pela fadiga, pela preguiça, pelo vício...? Ah sim, isso sim, cansei desse inoportuno viver... Dilacerado existir, impertinente sobreviver, dar-me-ei tempo, e se isso é um abandono, pois que seja pela fadiga, preguiça e vício... vício nunca atingido, sempre desejado... Cansei...

Minhas malas amontoam-se, minhas coisas empacotadas, minha vida cabe em uma pequena mala de mão... Que bobagem, quanta bobagem... Bagagem...

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